sexta-feira, novembro 08, 2019

Midway passou por Marbelha


A propósito da estreia da borracheira «Midway», retrocedi a 1977 e ao calor insuportável de um cinema em Marbelha, onde resisti a ver outra borracheira, para mim então espectacular, a outra «Midway», e vibrei com aquela batalha e com os meus heróis de então: Heston, Fonda, Mifune, Coburn, Mitchum ou Glenn Ford.

quinta-feira, outubro 31, 2019

The French Connection (1971), há dias na TV


Jimmy 'Popeye' Doyle : You dumb guinea.
Buddy "Cloudy" Russo : How the hell did I know he had a knife.
Jimmy 'Popeye' Doyle : Never trust a nigger.
Buddy "Cloudy" Russo : He could have been white.
Jimmy 'Popeye' Doyle : Never trust anyone!

Marselha, anos 70, Nova Iorque, anos 70, o detective Popeye. E acção, corridas, muitas corridas, perseguições a pé e de carro, e nessa matéria William Friedkin é imbatível. E If nunca foi tão bem filmado, Dantès teria gostado.

sexta-feira, outubro 25, 2019

The Big Country (1958), há dias na TV


Julie Maragon: Any ranch that you can see on foot just isn't worth looking at.

As planícies e os desfiladeiros da Califórnia, o cinema bigger than life de Wyler, com os gigantes Gregory Peck, Charlton Heston, Burl Ives, Charles Bickford, Chuck Connors e as tão pequenas quanto grandíssimas Jean Simmons e Carroll Baker.
Westerns como devem ser. Não é todos os dias.

terça-feira, outubro 22, 2019

Manhattan (1979), há dias na TV


Isaac Davis: It's an interesting group of people, your friends are.
Mary Wilke: I know.
Isaac Davis: Like the cast of a Fellini movie.

Gershwin, Gordon Willis, realizado por Woody como se fosse Truffaut, e uma Mariel que nunca mais foi igual a esta aqui.
Não é todos os dias mas valeu a pena, ainda que não tivesse sido na plateia do São Jorge.

quinta-feira, outubro 17, 2019

Filmes em revista sumária #553


O que começa por ser uma pantomina “empreendedora” rapidamente degenera numa “pescadinha de rabo na boca”, uma monumental espiral de violência, física e psicológica, uma tirânica trapaça de manipulação cruel entre duas (três, na realidade) famílias.

Uma, a vítima, muito “bem na vida” (os Park, quem mais?), que vive numa moradia desenhada por arquitecto-autor e está em permanente contacto com a luz e o verde, e uma outra, a agressora, que sobrevive nos basfonds da cidade (os Kim, quem mais?), sufocada na escuridão de uma cave infra-humana, e que tem como ganha-pão alguns “esquemas” que congemina.

«Parasite», o novo filme de Bom Joon-ho (também é co-autor do argumento), recente Palma de Ouro em Cannes, combina muito bem o tom de comédia e de sátira social com o drama, quantas vezes o terror, da realidade, do Humano, entre “raças” lá de baixo e cá de cima, numa espécie de Upstairs, Downstairs levado ao extremo, de certo modo autofágico.

O filme tem dois outros elementos muito poderosos: os actores (todos, mas com especial relevo para a belíssima prestação da versátil Jeong-eun Lee, no papel da governanta “legítima” e, claro, na do patriarca Kim) e a fotografia de Kyung-pyo Hong, mais uma vez imaculada (já o havia sido em «Em Chamas», de Chang-dong Lee).

A matriz da tomada de uma família por outra não será nova – basta lembrarmo-nos de «Harry, un ami qui vous veut du bien» (2000) ou «Brincadeiras Perigosas» (1997), para não irmos mais longe – mas é certo e certinho que quem com ferro fere… e se a apoteose sanguinolenta (habitualmente encenada de forma prodigiosa nos filmes coreanos) da festa de aniversário (será mais sacrifício?) era mais do que esperada, o resultado final desta luta de classes fraticida, parasitas uma da outra, entre vencidos e vencedores, só podia ser o que foi, ou talvez não.

Nota final para alguns verdadeiros “achados” de que ninguém se irá esquecer tão cedo: um dos “lá de baixo” que teima em urinar na janela onde os seus semelhantes habitam; estes a tentarem por todos os meios aceder ao Whatsapp, nem que seja em cima da sanita; e o cheiro especial a que se refere Park (fétiche?) relativamente a quem anda de metro …

A sequência da fuga dos Kim, humilhados e ofendidos, depois do banquete subversivo e sempre debaixo de uma chuva diluviana, é a parte mais bonita e dilacerante do filme.

quarta-feira, outubro 16, 2019

Obituário: Robert Forster (1941-2019)

Desaparecido a 11 de Outubro, Robert Forster será sempre lembrado por dois papéis, um secundário e outro principal, que distaram entre si 30 anos exactos: o de soldado Williams, que Brando mata por ciúmes em «Reflexos Num Olho Dourado» (foto acima), de 1967, e o de um agente de liberdade condicional em «Jackie Brown», de 1997, este último filme, por sinal, que constituiu um verdadeiro efeito "alavancagem" (como agora se diz) na sua carreira de eterno secundário, por obra e graça do génio de Tarantino, e que lhe permitiu nunca mais sair do estrelato, ainda que q.b. Mais um dos grandes que abandona o grande écran...

quarta-feira, outubro 09, 2019

Smile


É preciso recuarmos mais de 90 anos para encontrarmos outro filme assim, que nos surre violentamente com um sorriso estampado no rosto da personagem principal:

Em «The Man Who Laughs» (1928), de Paul Leni e produzido pelo tycoon Carl Lammle, o imortal Conrad Veidt dá rosto e corpo a alguém que, em criança e por culpa do pai, foi vítima de uma terrível condenação por incisão propositada de cirurgião sem escrúpulos: rir para sempre.

Para o sucesso desse inolvidável clássico da era do Mudo tudo contribuiu o gigante Veidt, mas também o talento de Paul Leni e, claro, a prosa primeira de Victor Hugo, que sempre conjugou, como poucos, o romance com o drama, a beleza e o monstro, interior e exterior.

É essa a herança de «Joker» que Todd Phillips e sobretudo Joaquin Phoenix, não só aproveitam como multiplicam e transformam num filme tão poderoso quanto indigesto, e que é já um dos marcos cinematográficos da década e, por conseguinte, do Sonoro.

Aqui, do que se trata não é de explorar uma pseudo-história de vida do arqui-vilão do Batman das histórias aos quadradinhos dos super-heróis da DC Comics, nunca descrita até hoje, e por mais que pareça sê-lo, até porque, calcule-se, a personagem de Veidt inspirou, ela própria, os autores de … Batman, e aí não há nem adopções nem manicómios para ninguém.

Ou seja, o argumento do filme é uma pura invenção do realizador, portanto, nunca foi escrita nem descrita em nenhuma banda desenhada.

Desengane-se, portanto, quem for para «Joker» munido de pipocas e na expectativa de ver um filme da Marvel, perdão, da DC Comics. Tal não podia acontecer e não acontece.

E que ninguém se ponha a querer comparar o incomparável, pois a personagem que Joaquin Phoenix sofre até quase sufocar, nada pode ter que ver com os homónimos mais recentes do grande écran, seja na variante apalhaçada que Jack Nicholson interpretou para Tim Burton, seja na versão mais demoníaca e irascível que o malogrado Heath Ledger tão bem soube compor para Christopher Nolan.

Aqui, como em 1928, o que conta é o expressionismo do imaginário, uma realidade dura e insuportável, de que a doença mental, no caso de Arthur Fleck, é apenas a espoleta.

Todd Philips soube evitar a tentação de recriar (inventar) cenários góticos à série televisiva, mas, quem sabe, terá abusado da “mãozinha” de Scorsese, que esteve inicialmente ligado à pré-produção do filme, facto que é visível a olho nu no piscar de olho a «The King of Comedy» e a «Taxi Driver», por exemplo.

Um imaginário adaptável aos tempos que correm, aos choques da sociedade contemporânea, aos eternamente injustiçados e tantas vezes espezinhados pelo poder do dinheiro, do oportunismo dos media, etc., daí resultando necessariamente também num filme oportunista porque demagógico, sinal dos tempos, apesar de ter também muito de conto de fadas … mefistofélico.

Seja como for, o que interessa aqui é a personagem-filme, é Fleck e a sua compulsão desenfreada pelo riso, a sua auto-flagelação incontinente, capaz de de qualquer laringe ou pulmão. É o sarcasmo que mata, literalmente. A tragicomédia de um homem só e delirante, em que todos pressentimos estar iminente uma explosão, o que acontece no “directo” (a beber claramente em «Network»): o êxtase.

Uma explosão de violência sem limites, mas também de côr, mas esta só no seu rosto e na indumentária de palhaço, tudo o mais é filtro. Uma espécie de Tai Chi Chuan de efeito perverso, ao som de Sinatra e Jimmy Durante, intermitente à poderosíssima música de fundo da islandesa Hildur Guðnadóttir, que já nos havia presenteado com acordes semelhantes em «Sicário».

Joaquin Phoenix está portentoso e ninguém mais o esquecerá enquanto Joker, terá mesmo ganho com esta interpretação o acesso ao Olimpo.

Todd Phillips, esse precisará de mais uma prova dos nove, ou talvez não.

Smile,
Though your heart is achin'
Smile,.
..

sexta-feira, outubro 04, 2019

Rude golpe no Cinema


O pré-aviso da não exibição em cinema do filme «The Irishman» é uma dura machada de Scorsese no dito com "C", e tal vindo dele, que toda a vida tem pugnado por ser paladino daquele contra a ditadura da TV & Cia, é mesmo muito mau, mesmo. Vermos De Niro, Pacino e tutti quanti em computador ou écran televisivo é contra-natura.

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terça-feira, outubro 01, 2019

Un Homme et une femme, 53 anos depois


Isto é, LES PLUS BELLES ANNÉES D’UNE VIE, de Claude Lelouch, com Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant a reencontrarem-se passados 53 anos sobre o clássico com música de Francis Lai, e 20 anos depois de uma sequela sofrível. Na Cinemateca, Sábado, dia 12 de Outubro, às 21h30, com a presença do imenso protagonista.

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quinta-feira, junho 14, 2018

Filmes em revista telegráfica #3


As guardiãs do filme homónimo de Xavier Beauvois são o “homem da casa” das aldeias e dos campos de cultivo, mas também dos animais e dos tractores e debulhadoras que ficaram sem a força braçal das suas caras-metades, filhos e netos, dos seus próximos que partiram para a frente na Grande Guerra – em grande. «As Guardiãs» é um filme belissimamente fotografado (Caroline Champetier é a guardiã das imagens), de tal modo que parece que estamos a ver sucessivos quadros de Brueghel, Van Gogh, Renoir e por aí fora (são absolutamente soberbos o travelling na cena da ceifa ou os planos na casa da mãe e filha Monette, ou aqueloutro em que Francine repele o americano, por exemplo), ao que os cenários idílicos (a agreste e bela Aquitânia) também ajudam, é um facto. Nathalie Bayé (já esticada) faz, como pode, de Scarlett O’Hara rural, mas é metida no bolso pela até agora desconhecida Iris Bry (Francine) – a nova Scarlett (J.) do cinema francês? E é tão bom ouvir que Legrand está vivo e recomenda-se.

quinta-feira, junho 07, 2018

Filmes em revista telegráfica #2


Chato, chato é quando num filme não se percebe se o herói morreu ou não morreu, sobretudo quanto está fora de questão um 2º visionamento do dito. É o que acontece com «Submergence». Pior do que o filme ser repetitivo e sensaborão, é ter um problema básico de argumento: por que raio foi James McAvoy meter-se com os terroristas na Somália? Arre! À parte isso é um filme com boas vistas e boa música, com Wenders a tentar reinventar no presente os seus diálogos filosóficos dos idos de 80-90. Só que Wim Wenders não era, ou foi, só isto.

quinta-feira, maio 24, 2018

Filmes em revista telegráfica #1

«Frantz» (2016) é talvez o filme mais triste de Ozon, mas também é um dos seus melhores, seguramente um dos mais belos. Roça o melhor do classicismo alemão, e americano, e tem um indisfarçável toque de Hitch. As cenas com a família do soldado desaparecido em combate são da melhor mise-en-scêne que tem estreado por cá, tudo é perfeito. É ver e assimilar: o negro do luto e as cores da vida, em mais um filme absorvente do autor de «Sous le sable», um filme com nome de homem mas mais uma vez claramente feminino.

segunda-feira, agosto 21, 2017

Obituário: Jerry Lewis (1926-2017)


Como se diz agora, ele era da família (por sinal cada vez menos numerosa). The master of the visual gag (in obituário da BBC) morreu ontem aos 91 anos, depois de largas dezenas de filmes e outras tantas ou mais personagens (se nos lembrarmos das vezes em que protagonizou várias no mesmo filme) e milhões de gags … dois bypass, três ataques do coração, um cancro e as costas feitas num oito, desde que levou com um piano em cima nos anos 60. Ainda teve tempo para dar espectáculos ao vivo por todo o lado e ser filantropo a sério. Falando de cinema(s) a ele associo sempre três salas, todas elas extintas vai para muito tempo: Berna, Caleidoscópio e Vox, onde via quase tudo quanto ele fez de bom e de menos bom nos anos 60, 70 e 80. Mas é da TV que retenho os melhores momentos do muito que com ele chorei a rir, desde logo daqueles seus shows que passavam no então “serviço público de televisão”, em que cantava, tocava e dizia e fazia larachas como ninguém, de lacinho de banda e uma garrafinha de qualquer coisa para ajudar à coisa. E dos filmes, claro, que nunca deixavam de passar ao fim-de-semana (ainda a preto e branco) ou quando tal era preciso para levantar o moral, quer como parceiro de Dean Martin, quer já a solo (uma separação que só lhe fez bem, aliás) - que dizer dessa maravilha da comédia chamada The Bellboy (1960)?


N.B. Aguardo que a RTP faça a devida homenagem a Jerry Lewis, porque as peças e notas de rodapé de ontem foram simplesmente vergonhosas.

quarta-feira, agosto 02, 2017

Obituário: Sam Shepard (1943-2017)


My old man tried to force on me a notion of what it was to be a 'man.' And it destroyed my dad, disse uma vez.
Foi-o e gigante. Discretamente. Sem ele não teria havido «Paris, Texas». E sem ele «Days of Heaven» não teria sido o que é: o melhor dos filmes de Malick.

Obituário: Jeanne Moreau (1928-2017)


E são tantos os seus filmes que é impossível passá-los a pente fino, um por um, naqueles em que melhor estiveram os seus olhos ou os seus lábios. Já à sua voz inconfundível, é impossível deixar de ouvi-la em «L'Amant», de Annaud, féminine, grave, légèrement voilée , como tão bem referiu a Paris-Match.

domingo, julho 16, 2017

Obituário: George A. Romero (1940-2017)


O facto de Romero ter morrido escutando a música de «Um Homem Tranquilo», de Ford, e de ter «Os Contos de Hoffman», de Powell & Pressburger, como filme preferido, diz tudo sobre o pai de todos os zombies, autor desse portento de filme chamado «A Noite dos Mortos-Vivos» (1968).

Obituário: Martin Landau (1928-2017)


Apesar dos seus mil e um papéis, sobretudo secundários, em outros tantos filmes e séries televisivas; herói e vilão (sobretudo vilão), fosse em policiais, espionagens ou "coboiadas", a verdade é que foi o Comandante Koenig quem desapareceu, herói de toda uma geração, anos-luz antes de incarnar Lugosi, que é toda uma outra história.

terça-feira, maio 23, 2017

Obituário: Roger Moore (1927-2017))


Tristeza pela morte de Roger Moore, por ser mais uma das companhias de sempre da TV e do Cinema que desaparece. Ficam o seu, nosso, Santo mais o respectivo Volvo P1800 coupé. Ficam os Persuasores (e Lord Sinclair) a meias com Tony Curtis e fica o Bond mais blasé de todos, mas nem por isso menos incontornável ou ícone que Connery. E fica na retina a sua saída da Mère Germaine, há coisa de 20 anos, zarpando ao leme do seu iate, gigante, impávido e sereno e inesquecível.

segunda-feira, maio 15, 2017

Obituário: Powers Boothe (1948-2017)


Ficarão connosco para sempre a forma durona como esmagou um escorpião em "Extreme Prejudice", de Walter Hill, e como protagonizou para a televisão o suicídio colectivo liderado por Jim Jones, ou, claro, Philip Marlowe. Era um cowboy dos quatro costados e a verdade, também é que "Sin City" não seria a mesma sem o senador Roark.

quinta-feira, abril 27, 2017

Obituário: Jonathan Demme (1944-2017)


Foram os policiais mais ou menos espalhafatosos dos anos 70 que o lançaram para a ribalta e «Melvin and Howard» (1980) para as boas graças da crítica. De Corman herdou a veia humorística que nunca mais largou, vejam-se os delirantemente inesquecíveis «Something Wild» (1986) e «Married to the Mob» (1988). O soberbo «The Silence of the Lambs» (1991), que "fez" a meias com Clarisse e Lecter, perdão, Jodie Foster e Hopkins, ganhou tudo e a todos nos maiores prémios desse ano. Depois, embalou-nos com a Calas em «Philadelphia» (1993), para logo depois se começar a estatelar e nunca mais endireitar, inclusive com a remake do candidato da Manchúria, e agora desaparecer, sem avisar. Fica a mágoa de ter realizado tão poucos filmes. A foto é do seu mais hitchcockiano, «Last Embrace» (1979), com o sempre fabuloso e saudoso Roy Scheider - em que só o plongée do átrio do arranha-céus vale meio filme.

quinta-feira, abril 13, 2017

Festa do Cinema Italiano #9


La stanza del figlio (2001), de Nani Moretti

quarta-feira, abril 12, 2017

Festa do Cinema Italiano #8


Stromboli, terra di Dio (1950), de Roberto Rossellini

terça-feira, abril 11, 2017

Festa do Cinema Italiano #7


Respiro (2002), de Emanuele Crialese

segunda-feira, abril 10, 2017

Festa do Cinema Italiano #6


Amarcord (1973), de Federico Fellini

domingo, abril 09, 2017

Festa do Cinema Italiano #5


Dillinger è morto (1969), de Marco Ferreri

sábado, abril 08, 2017

Festa do Cinema Italiano #4


Il deserto rosso (1964), de Michelangelo Antonioni

sexta-feira, abril 07, 2017

Festa do Cinema Italiano #3


Profumo di donna (1974), de Dino Risi

quinta-feira, abril 06, 2017

Festa do Cinema Italiano #2


Le notti bianche (1957), de Luchino Visconti

quarta-feira, abril 05, 2017

Festa do Cinema Italiano #1


Le Bal (1983), de Ettore Scola

sábado, janeiro 28, 2017

Obituário: John Hurt (1940-2017)


Oh, Krapp... Actor fabuloso, voz fabulosa, presença fabulosa. Papéis inesquecíveis, em personagens inesquecíveis, em cada uma das rugas do seu rosto, esculpido a talhe de foice, i.e., nicotina e álcool. Ah, aquele seu Calígula, de I,Claudius! Ah, o heroinómano do sufocante Comboio da Meia Noite! E o assassino a soldo no fabuloso The Hit, de Frears! E o seu louco, de Lear, ao lado do maior de todos, Olivier? Ou John Merrick, que só podia ser ele e mais ninguém? Ou aquele inesquecível Krapp, do monólogo homónimo sobre a solidão, de Beckett? Ou Alien, ou, ou...

quarta-feira, janeiro 25, 2017

Filmes em revista sumária #552


Cinco (5) estrelas para “La La Land”, que é disto que os sonhos são feitos e, já agora, o Cinema também. Trata-se de um musical - na verdade uma história de amor - absolutamente soberbo, e que é a prova provada de que a renovação no cinema americano está aí e augura coisas boas, e que as lufadas de ar fresco hollywoodescas são possíveis sem ser sequer preciso recorrer à produção independente, ou seja, também o pode ser com produtoras robustas, orçamentos elevados e elencos de estrelas.

“La La Land” é um regresso pela porta grande ao sempre teremos Paris de “Casablanca”, revisita com evidente amor tudo quanto é memória cinéfila de espectador que se preze (não é preciso recorrer a centrum), fazendo-o sempre com bom gosto e continuada imaginação, tanto nos números musicais como nos cenários, como só Demy sabia fazer, até ao dia em que Coppola realizou uma obra-prima chamada “One from the heart”.

Há sequências admiráveis, como a da abertura, antes mesmo do título do filme; ou a da ida nocturna ao planetário e a da onírica história de vida a dois que podia ter sido e não foi, porque os sonhos de menino de um e de outro se sobrepuseram a tudo o resto, mas são-no quase todas, porque é raro o momento em que o filme nos larga, tempos mortos não tem e tem panache para dar e levar.

Emma Stone e Ryan Gosling fazem chispa desde a cena da buzina e do “dedo” até à despedida à Ilsa & Rick, e a primeira pode já começar a limpar o pó à vitrine lá de casa porque não só o Óscar não deve fugir-lhe como outros se lhe seguirão: está fantástica, e faço mea culpa porque não a suportei no penúltimo de Woody Allen. Damien Chazelle, esse, prometeu mundos e fundos com o poderoso “Whiplash” e começou já a cumprir a promessa com esta sua segunda realização.

Quanto aos inevitáveis botas-de-elástico detractores do filme, lá está, aplica-se-lhes a velha máxima do samba (sem tapas) de João Gilberto: “quem não gosta de samba, bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé”.

segunda-feira, novembro 21, 2016

Filmes em revista sumária #551

Pese embora a inquestionável simpatia de Ewan McGregor e a portentosa interpretação de Jennifer Connelly, a verdade é que a estreia do escocês na dupla qualidade de realizador-actor (ou será o inverso?) de «Uma História Americana» (e qual será o dicionário "à maneira" em que pastoral é sinónimo de história…) deixa muito a desejar, para não dizer que é um rotundo flop. O dramalhão (será o mesmo da obra de Philip Roth?) ter-se-ia resolvido com uns valentes tabefes na irritantíssima Merry (que Dakota Fanning transforma em zombie) e tudo podia ter sido diferente, até a sua gaguez, dela e do filme. Assim não foi e o drama passou a hilariantemente estúpido e o filme a lento, monocórdico, parecendo durar uma eternidade. Aplausos para a sequência final em que o pobre do Ewan faz plantão não arredando pé defronte ao barraco da filha, e as suas rugas e fatioca entram num fast forward de turbilhão só terminando com o pai no caixão. As adaptações ao cinema de prémios Pulitzer, mais a mais por estreantes, podem dar nisto… esta deu.

quinta-feira, novembro 17, 2016

Filmes em revista sumária #550


«Sozinhos em Berlim» começa bastante bem, com a sequência da morte do filho do casal Quangel, na Frente, a introdução das personagens e o despoletar da revolta silenciosa dos pais, que por via da escrita e distribuição direcionada de postais-denúncia vão tentando minar o sistema/regime apelando à desobediência de cada qual, num raio de acção cada vez maior pela cidade, deixando-os aqui e acolá de preferência perto de funcionários da administração pública, serviços e afins. Um dia a coisa dá para o torto e o final da história depressa se adivinha. O filme depressa vira pastelão e Vicent Perez, o seu “realizador”, parece confundir reconstituição histórica com pintalguice pirosa, deixando, inclusivamente, cenas completamente desconexas, umas, pessimamente encenadas, outras. Os poucos louros de «Sozinhos em Berlim» residem em Emma Thompson (sempre fantástica) e em Brendan Gleeson, primando este num espantoso underacting, pouco consentâneo com a sua imagem habitual de “elefante em loja de porcelana”. Melhor cena? A de Gleeson esculpindo na madeira o rosto do filho desaparecido em combate. Resumindo: uma bela história que merecia outro filme.

terça-feira, novembro 15, 2016

Filmes em revista sumária #549


«Café Society» é um marco na carreira de Woody Allen porque é a 1ª vez que o autor de «Manhattan» filma em digital e, outra estreia, que tem como director de fotografia o portentoso Storaro. E de marcos estamos falados. Mas como estamos a falar de Woody e o que nele é mediano noutros seria apelidado de marco, que dizer dos diálogos pontiagudos? Do seu humor mais-que-negro? Da crítica corrosiva a vários desde logo aos próprios compatriotas? Do ritmo a que tudo roda e gira? Da meticulosa reconstituição de época (embora desta vez apenas tenha aprimorado naqueles fantásticos décors de interiores no escritório do agente e nos exteriores da moradia Art Déco da mítica Dolores Del Rio)? Da banda sonora imaculada? Da genialidade de toda a sua simplicidade? Kristen Stewart perde-se de amores entre o irritantérrimo Steve Carell e o insuportável Jesse Einsenberg e como o que conta são os dólares, grande novidade, o final é o que é. Até para o ano, Woody, e se possível com um melhor do que «Blue Jasmine» ou «Match Point». E café society, era mesmo o quê? Não interessa, tens razão.

segunda-feira, novembro 14, 2016

Filmes em revista sumária #548


Em «Arrival» (traduzido para «Primeiro Encontro»!), somos invadidos por 24 aliens gigantescos e tentaculares (os ditos cujos mais os respectivos urros são decalcomanias boazinhas do fabulosamente terrífico «The Mist», de Darabont e Stephen King) em 12 naves em forma de bola de rugby (seria um pouco demais se fossem monólitos negros…) que, pasme-se, só nos querem dar a descodificar a linguagem universal, um esperanto encriptado numa espécie de kanjis em borrões de tinta-da-china, e que apenas um linguista superdotado e vidente poderá decifrar. Fazem-no, pasme-se, para que nós os recompensemos daqui por 3 mil anos, não se sabe do quê nem como, o que é só por si coisa “pouca”. A coisa é profunda, claro, mas fica longe do padrão universal dos filmes de ficção científica que chegam até nós anualmente, o que só abona em favor de Denis Villeneuve, o realizador, que a páginas tantas se perde numa dimensão de dispersão mallickiana, que se lhe desconhecia e dispensa. Amy Adams, como seria de esperar, vale a outra metade do filme mas tanto Jeremy Renner como Forest Whitaker andam perdidos e totalmente desaproveitados, ou seja, que fazem ali? Que venha o próximo Villeneuve mas com tirinhos, de preferência.

sábado, novembro 12, 2016

Obituário: Robert Vaughn (1932-2016)


All I did was basically play myself in the role of Napoleon Solo. Mas foi mais do que Mr. Solo, foi herói e vilão (e como era bom a fazer deles, fosse político corrupto ou assassino de élite, sim porque nunca perdia a elegância) em tantos, por vezes demasiados, papéis e cameos para filmes e episódios de televisão que é difícil perdê-lo da retina. Também nunca esquecerei Lee, o pistoleiro em crise de confiança, nos «Sete Magníficos». David McCallum costumava atirar-lhe à cara: It's a handicap isn't it? Being so obviously American?

quarta-feira, setembro 28, 2016

Filmes em revista sumária #547


Tim Burton está de regresso com «Miss Peregrine's Home for Peculiar Children», uma adaptação para 3-D (para quê?) de um best seller homónimo para adolescentes, do até agora desconhecido Ramson Riggs. O filme tem altos, altíssimos (a longa sequência inicial do rapto do avô, a cena em que os “sem alma” se refastelam de olhos humanos, a cena de Emma levitando para colocar o esquilo na árvore, por ex.), e baixos, medianos (as auto-citações constantes que vão da topiaria a «Dark Shadows», terminando na louca batalha à «Mars Attacks» no pontão de Blackpool – esta era apenas conhecida até agora pelas suas iluminações de Natal -, e os ziguezagues por Peter Pan, Pinóquio e um sem-número de imagens vivas em todos nós), e ainda não foi desta que o génio do realizador voltou a sair da garrafa onde parece gostar de estar desde «Sweeney Todd», pelo menos. Grandes personagens e performances as de Eva Green (mesmo enquanto falcão peregrino), Terence Stamp, Samuel Jackson e Rupert Everett, este último compondo um fabuloso ornitólogo. A história? Pouco interessa no meio do vórtice de frenesim, rítmico, colorido e de emoções e levitações, permanente.

terça-feira, setembro 27, 2016

Filmes em revista sumária #546



«Não Respires» é um filme de terror com adolescentes (filão sem fim, por “culpa” de mestre Carpenter…) e tem no ceguinho protagonizado pelo “avatar” Stephen Lang o vilão de serviço que, para que não o acusem de violador, usa nas suas vítimas um bem engendrado método de inseminação artificial. A trama custa a arrancar e a câmara teima em virtuosismos gímnicos, mas quando o terror se instala e a câmara estabiliza a coisa é mesmo a valer, sofregamente claustrofóbica, mantendo uma tensão e um sobressalto constantes até ao final, quem sabe se mortinhos pela sequela que se adivinha. Fede Alvarez, o realizador, mostra que afinal sabe mais do que mostrou até aqui, ainda que Sam Raimi, o seu mentor, lhe esteja ainda a anos-luz. As melhores sequências são as das perseguições: a que o terrível Rottweiler (na realidade foram 3 os cães de serviço ao filme) faz à jovem Rocky, pelo circuito de ventilação da única casa habitada em todo o Delray (célebre bairro abandonado nos subúrbios de Detroit), a lembrar «Aliens», e aquela passada na total escuridão do abrigo de furacões, a lembrar as míticas cenas do espanhol «REC». Em relação a tops dos últimos tempos, «Não Respires» fica aquém do celebrado «Vai Seguir-te», do ano passado.

segunda-feira, agosto 29, 2016

Obituário: Gene Wilder (1933-2016)


Jerome Silberman esteve para Mel Brooks como Wayne esteve para Ford e os anos 70 (e parte dos 80) sem ele não teriam sido a mesma coisa. Começou por ser devoto de Stanislavski e acabou formado por Lee Strasberg. Inesquecíveis os seus desempenhos em filmes como "Frankenstein Jr" e "Balbúrdia no Oeste", ou o seu papel secundário em "Bonnie & Clyde". Em 1984, interpretou e dirigiu o vestido espampanante vermelho, perdão, Kelly Le Brock, ao som de I Just Called to Say I Love You, naquele que terá sido o seu último sucesso de bilheteira. É cómico-trágico que agora só o relatem como tendo sido o 1º Willy Wonka, bah!

sexta-feira, agosto 26, 2016

Norev

Desconhecia por completo esta marca francesa de miniaturas, muito menos descobri-la na Pequena Veneza.
E não, não estava sob o efeito dos pinot nem do riesling.

quinta-feira, agosto 25, 2016

Cinema de herdade


Dizem que é uma espécie de cinema, mas não tem nem projector nem écran nem projeccionista nem filmes residentes. Apenas umas fileiras de cadeiras e esta está reservada.

quarta-feira, agosto 24, 2016

La Grande Illusion #5


Talvez Luís XIV tenha dançado sob este barco de votos à Terra-Nova, na Igreja de S. João Baptista.
Se não o fez, devia: La danse est une affaire française.

terça-feira, agosto 23, 2016

La Grande Illusion #4



Nas tarimbas do bunker do farol de Cap Ferret, em 1944, alguém deve ter invectivado alguém como em Les petits mouchoirs: Vous vous dîtes amis, mais c’est quoi être amis ? C’est laisser votre pote tout seul à l’hosto’ pendant quinze jours, parce que vos vacances et votre petit confort, c’est plus important ?!

segunda-feira, agosto 22, 2016

La Grande Illusion #3


Quem sabe se não foi em Kientzheim que o maior dos Tudor foi "beber" a sua fonte.

domingo, agosto 21, 2016

La Grande Illusion #2

De Clóvis I a Luís XIV, os reis assistem do alto à terrível explosão de
Sherlock Holmes: A Game of Shadows.

sábado, agosto 20, 2016

La Grande Illusion #1


Von Stroheim dá as boas-vindas em Haut-Kœnigsbourg.

segunda-feira, julho 04, 2016

Filmes em revista sumária #545


Tem graça como n’O Hotel de «A Lagosta», última paródia-choque do grego Yorgos Lanthimos, não existe nenhum leão, que seria sempre a minha escolha quanto mais não fosse para devorar todos os outros, mas adiante.

Mais uma vez não se inveja a infância de Lanthimos, que mais parece ter sido um autêntico laboratório pavloviano, tanta é a tortura por reflexos condicionados por que passam as suas personagens nos filmes-parábola cruéis que realiza, aqui, em «A Lagosta», condicionadas à obrigatoriedade de terem de viver a dois, sempre, dê lá por onde der (a ideia está muito bem apanhada), porque, caso contrário, são enviadas sem apelo nem agravo para a unidade de processamento-metamorfaseamento e transformadas em acéfalos bicharocos, à escolha pelo próprio hóspede no cardápio do hotel-prisão.

E se com «Canino» foi o que se viu e Lanthimos surpreendeu com a violência psicológica e a profunda reclusão a que aquela família era sujeita pelo patriarca tirano, agora a carga absurda é mais leve e a comicidade reina como quer e lhe apetece – os diálogos e as situações entre os três amigos (Farrell, John C. Reilly e Bem Whishaw) são, por exemplo, irresistíveis – ainda que a violência lá permaneça e de que maneira (que dizer daquele soco imenso no estômago, no final do filme, em que o cobarde David não consegue cegar-se a si próprio...).

E fica o aviso: depois de se ver «A Lagosta» nunca mais se olha da mesma maneira para o cão do vizinho …

Obituário: Michael Cimino (1939-2016)


Um cineasta verdadeiramente completo, tão grande artista quanto quase sempre o homem certo na altura errada.
É impressionante a lista de filmes que ficou de fazer mas não fez por ser despedido, etc., etc.
Só por «O Caçador» merece todos os elogios fúnebres deste mundo e do outro.
Films are home movies of your past. Que pena.

segunda-feira, junho 27, 2016

Obituário: Bud Spencer (1929-2016)


«Spencer perché adoravo Spencer Tracy e Bud perché bevevo la birra Budweiser.»
Boas memórias e melhores gargalhadas, as dadas no Roma, no Alvalade e no Palácio (Estoril) e no São José (Cascais). Geee, há já tanto tempo.

quarta-feira, junho 15, 2016

Filmes em revista sumária #544


«The Nice Guys» é a terceira incursão bem-sucedida de Shane Black por terras da comédia policial, daquela de que talvez «48 Hrs», de Walter Hill, seja a bitola das últimas décadas. Com efeito, depois de ter assinado o argumento de «Leathal Weapon» (1987) e realizado a “lufada de ar fresco” que foi «Kiss Kiss, Bang Bang» (2005), o realizador volta ao merecido topo e deseja-se que às três seja de vez.

Desta vez a acção vertiginosa ultra-cómica roda pelos idos de 70, por entre festas de arromba dos bastidores da indústria dos filmes de L.A., escândalos e politiquices à mistura, muito disco sound, e cores e bocas-de-sino para todos os gostos e feitios. Os diálogos são mais uma vez o ponto forte do cinema Black, o que, dada a concorrência, é de aplaudir.

Russel Crowe nunca deixou de ser um grande actor e mete o filme no bolso das suas calças XL, de tão gordo ficou para vestir o papel do cobrador, não de impostos, mas de pessoas desaparecidas, na parelha digna das Looney Tunes, que compõe com Ryan Gosling, que aqui faz o que pode e a mais não é obrigado.